Vazio Inverso

Antonio Bokel

‘Vazio Inverso’ reúne uma série de trabalhos de Antonio Bokel, pensada para ocupar o espaço da Galeria MOVART. Há nesse conjunto um duplo desejo poético acerca do vazio: investigá-lo enquanto sentido à completude da forma, assim como expoente de seu equilíbrio. A partir de planos geométricos, sobretudo círculos (por conotações conceituais, espirituais, inclusive), Bokel explora a ideia de descontinuidade modelar, do ponto de vista da exatidão e construção lógica, no intuito de reflexionar acerca do espaço. Nesse processo, o vazio não é tão somente ausência, mas pausa necessária à articulação perceptiva do todo. Não por acaso, somado a negros e brancos, o azul se presentifica em suas pinturas: azul de Giotto, de Klein, de Volp… enfim, azul do espaço.

Em sua produção mais recente, Bokel introduz certa dinâmica a estruturas geométricas que há tempos têm sido recorrentes em suas obras. Contudo, em lugar de rigidez e purismo, deparamo-nos com estruturas da ordem do instável. Cortes, hiatos e interrupções geram inquietação na fruição de espacialidades geométricas quase em desalinho.

Embora esses trabalhos tenham franca inspiração em obras de mestres da história da arte brasileira – como é exemplo as dobras escultóricas de Amilcar de Castro –, há neles uma subversão poética dos planos construtivos. Talvez seja reminiscência do limiar de sua trajetória artística. Algo relacionado ao gesto e ao hibridismo da arte de rua. Mas, não só.

As variações de escala empreendidas por Bokel são igualmente instigantes e análogas ao espaço citadino. Vazios e cheios se mesclam como trânsito que flui nas ruas e vias. Os vazios são presença inevitável em sua obra, que se revela cada vez mais rítmica quer por intervalar planos ora grandes ora pequenos, ou por se lançar em estrutura arquitetônicas e/ou escultóricas. Tais questões são de interesse a esta curadoria, que por meio do pensamento expográfico almeja estimular o público a refletir sobre espaço e instabilidade.

‘Vazio Inverso’ investe numa escrita intervalar de formas e traços rumo a equidades diversas: figura e fundo, cheio e vazio, antes e depois, continente e conteúdo, em um conjunto no qual nosso olhar circula na impossibilidade de encontrar um ponto de repouso.

Curadoria de Sonia Salcedo del Castillo.

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