Confronting the gaze
Alice Marcelino | Astrid González | Rebecca Fontaine – Wolf
Em ‘Confronting the Gaze’ (‘Confrontar o Olhar’), Alice Marcelino, Astrid González e Rebecca Fontaine-Wolf apresentam uma prática artística que combina fotogra-fia, fotografia intervencionada e vídeo para se apodera-rem de uma forma de representação que faz uso do próprio corpo para gerar imagens que confrontam o espetador através do estético, do desagradável e da crueza dos factos que descartamos, de modo a revelar estas dinâmicas perversas do olhar e a desestabilizar os discursos hegemónicos de raça e género.
Na série fotográfica “Pele Negra, Algoritmos Brancos” (2023) Alice Marcelino faz referência à obra seminal de Frantz Fanon, “Peles Brancas, Máscaras Negras”, uma das teorias mais influentes e ao mesmo tempo devastadoras na análise da questão pós-colonial, que disseca em termos psicopatológicos a forma como o supremacismo branco afecta o inconsciente da população negra, afectando a imagem que constroem de si próprios como inevitavelmente subjugados ao cânone branco, referenciando-o, imitando-o, situando-se numa posição de insuficiência perante ele. Nesta série fotográfica de Alice, os rostos dos sujeitos são mascarados numa representação de código binário para falar sobre como as novas tecnologias cibernéticas têm um preconceito racial, uma vez que os algoritmos de reconhecimento facial reconhecem a pele branca ou clara e tendem a excluir a pele negra.
Na série fotográfica “Cultura Negra” (2016), que faz referência à obra “Mujeres Portadoras” da artista colombiana Liana Angulo, Astrid González narra a história dos Cimarrones, escravos de ascendência africana que escaparam à sua condição fugindo para territórios Abya Yala de população indígena, entre a Colômbia e o Panamá, onde estabeleceram comunidades nas quais desenvolveram tradições africanas, sintetizadas com a aprendizagem experimental do seu desenvolvimento na América Latina. Como explica a artista, “as mulheres Maroon entrançavam caminhos nos seus cabelos, e neles guardavam sementes que mais tarde semeariam em terras livres”.
Rebecca Fontaine-Wolf produz um corpo de trabalho no qual utiliza extensivamente o autorretrato como meio para falar da sua experiência como mulher na era do imediatismo digital e da saturação de imagens que inundam a nossa experiência quotidiana. Rebecca retrata as visceralidades da experiência feminina que são normalmente escondidas porque confrontam a realidade idealizada da visão canónica da mulher, que é ajustada ao desejo masculino. Nas séries “Natureza Morta” e “Corpo Real” (2022-2023), a artista constrói imagens em que o olhar se fragmenta em múltiplas realidades e gera uma sensação de ambiguidade entre o perturbador e o prazeroso.
Curadoria de Carmen Bioque, 2024