Kwame Sousa

"A utopia do meu local inspira-me a trabalhar com e sobre eles. interessante perceber como as diferentes história ligadas ao meu povo inspiraram o meu percurso e a minha obra, que se desdobra em diferentes suportes, como a pintura, a fotografia e a instalação. A narrativa intemporal que as artes me permitem faz com que esse contexto seja atual. O transporte de memórias de momentos torna esse pensamento utópico atual de tal manerira que a minha pesquisa baseada na identidade e fortificação de conceitos étnicos e culturais, sobre o patrimônio material e imaterial que muitos gostariam que desaparecesse. Minhas obras não são somente frutos da imaginação. São objetos palpáveis fruto da história do meu povo!”

A escala do tempo dilui-se nas pinturas de Kwame Sousa, entre o presente e o passado, a linha é congelada e as pausas plenamente assumidas pelos seus protagonistas. O artista procede por camadas. “Trabalho em várias obras e ideias ao mesmo tempo, elas são complementares. Não trabalho a pensar que vou sintetizar toda a minha pesquisa numa só peça. É um processo contínuo”.

Muitas vezes emparelhados ou agrupados, frontais ou de lado, estes corpos desafiam-nos, questionando-nos sobre o que olhamos e como. Os pés não estão assentes no chão, os corpos parecem estar em levitação, como se não pertencessem a lado nenhum, mas encarnam com certeza o corpo negro desde a epopeia da escravatura até à nossa era de tempo capitalista selvagem. As obras abraçam a dor e o orgulho remanescentes, impressos em cada célula destes corpos pintados e parados.

Kwame Sousa associa texto e imagem para reforçar o empowerment num modo discursivo que permite a transferência de poder para outros. Representa os protagonistas dos movimentos libertadores e emancipatórios em plena demonstração do seu discurso sobre a igualdade racial, como evocam as frases escritas nas telas pintadas. Pinta sinais que lutam contra a submissão, a supremacia branca e capitalista, tal como definida por Bell Hooks.

Cecile Bourne Farrell, 2022

Kwame Sousa
Biografia
Biografia

Kwame Sousa (1980, São Tomé e Príncipe) é um artista multidisciplinar que investiga a história de São Tomé e Príncipe, explorando uma grande variedade de meios, técnicas e estilos. Descobriu o gosto pela arte desde muito cedo, começando a desenhar como autodidata. Em 2001 integrou o grupo de jovens artistas acolhidos pela Teia de Arte, onde, sob a orientação e apoio de João Carlos Silva, teve a oportunidade de aprender e partilhar diferentes linguagens artísticas com artistas de todo o mundo, participando na 2ª Bienal de Artes de São Tomé e Príncipe em 2002. Mais tarde, em 2004, iniciou o seu percurso académico em Portugal, estudando na Escola de Artes e Ofícios do Espetáculo e depois pintura e desenho na Ar. Co- Escola Independente de Arte, com o apoio de uma bolsa da Cooperação Portuguesa.

Ao longo dos últimos anos inúmeras foram as galerias, feiras de arte e capitais que acolheram as suas obras, destacando apenas a Trienal de Luanda; o Festival de Cinema e Arte de Bamako; a Bienal de Arquitetura de Veneza; a Droog Gallery, em Amesterdão;  as Arco Lisboa, Madrid e Paris e o Art in a Box, em Nova Iorque e Washington.

Integrando a terceira geração de artistas plásticos santomenses, Kwame Sousa, é atualmente considerado um dos artistas plásticos contemporâneos mais influentes no seu país.

Construindo grande parte da sua carreira e reconhecimento internacionalmente, resolveu um dia voltar, e criar uma escola de artes. Em 2017, num terreno ao lado da casa do seu pai, surgiu a primeira e única Escola de Artes Visuais atualmente em funcionamento em São Tomé e Príncipe. Esta escola, o Ateliê M, é onde nasce o fervilhar de uma nova corrente cultural e artística em São Tomé, com artistas mais conscientes, abertos para o mundo, mas sem nunca se esquecerem das raízes que os envolvem, do contexto de onde são oriundos, expresso de forma tão nítida e particular nas suas obras.

No horizonte da sua trajetória artística pessoal, o artista tem-se interessado sobretudo pela investigação e rastreio dos processos de independência colonial e dos processos cumulativos de construção da identidade africana.

Kwame Sousa
Trabalhos selecionados