BEJU BAFATADA
Fidel Évora
‘Beju Bafatada’ refere-se ao título de uma canção do duo musical cabo-verdiano Ferro Gaita. Sob ele, mostramos duas linhas de trabalho com temporalidades diferentes mas que se cruzam numa mesma abordagem à forma e à mensagem, onde a fragmentação do espaço pictórico em camadas de matéria e pensamento se manifesta como uma constante no trabalho do artista. São elas, por um lado, as séries ‘Rabidanti’, ‘Nácia Gomi’ e ‘Petit Pays’ que desenvolveu durante a sua residência artística em 2022 na lendária casa de litografia e impressão artística Atelier Idem em Paris e, por outro lado, o seu mais recente trabalho, a colaboração com o músico português Slow J, uma das figuras mais relevantes da indústria musical nacional.
‘Beju Bafatada’ (‘Kiss Slap’) é a síntese metafórica do olhar de Fidel Évora sobre a sua biografia e sobre a história luso-africana, uma vez que ambos os projectos acabam por estabelecer um olhar agridoce sobre as origens, a memória e a história – as histórias públicas e as invisíveis -, tanto no âmbito individual como no coletivo, mergulhando nas complexidades destas realidades distintas e intersectadas que incutem uma dualidade nos sentimentos com que as podemos abordar.
A música tem sido, em grande medida, um elemento central no imaginário artístico de Fidel Évora, afectando os caminhos que acabaram por moldar a sua carreira. O artista materializa uma das possíveis imagens que a música contém. A música, de igual modo, tem um elevado poder de incisão na consciência popular, pois pode estabelecer-se que é o artefacto cultural mais acessível e, talvez por isso, aquele que alberga o maior capital de convocação da memória e, consequentemente, o lugar ideal para explorar os conceitos que mais interessam a Fidel.
Curadoria de Carmen Bioque.